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(Imagem retirada da internet) |
Devido a toda essa onda de cultura do cancelamento e pulsão de morte que eu vejo na internet, tem vários assuntos que eu tenho vontade de tratar no blog, mas vou empurrando com a barriga por falta de coragem, esse é um deles. A grande questão é que o cancelamento é algo que só tem força se para nós, faz sentido pertencer a um determinado meio. Com o tempo eu tenho questionado justamente isso, será que estar incluído nesses meios é realmente tão importante ou benéfico?
Aqui no blog, eu nunca tratei de assuntos relacionados a política. Sempre tive bastante receio por medo de sofrer represálias dos dois lados extremos do espectro. Por ser uma pessoa de família humilde que cresceu em escola pública, tem uma mãe negra, ser neurodiverso e LGBT+, eu sempre tive uma inclinação maior por correntes esquerdistas. Simplesmente porque tais políticos impactavam mais a minha vida, seja com projetos que envolvam saúde, educação e transporte públicos no bairro em que eu morava, seja por falarem mais sobre os meus direitos enquanto minoria.
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Conforme fui crescendo, e a internet junto comigo, comecei a ter acesso a conteúdos políticos de esquerda no Youtube e nas redes sociais. Em pouco tempo, me tornei militante. Não que eu estivesse engajado em algum projeto ou partido político, mas eu defendia e militava em prol de causas sociais o dia inteiro. A um ponto em que eu era uma pessoa até mesmo cansativa de se conviver. Eu lembro de mal estares que já causei em grupos de amigos e familiares por exagero de problematizações. Isso no auge da minha adolescência.
Contudo, os anos passam, nós aprendemos coisas novas e amadurecemos. Com isso eu comecei a enxergar o meu lugar na sociedade, o papel que eu ocupo, e o quanto eu estava em uma ilusão de onipotência ao acreditar que eu conseguiria desconstruir todos os problemas sociais do universo. Eu não era nenhum justiceiro de verdade, eu era um adolescente com síndrome de messias.
Não deixei de reconhecer a importância de nenhuma dessas pautas, porém, me informei mais e acabei desenvolvendo opiniões mais maduras e embasadas. Comecei a enxergar a militância de internet de modo crítico e autocrítico. Percebi situações em que envolviam excessos e, a parte mais importante: percebi momentos em que a política deixava de ser uma questão de informação, opinião e posicionamento e se transformava quase em uma religião.
Vocês já pararam pra pensar porque políticos e ativistas famosos sempre usam o termo "direita" e "esquerda" de forma sacra ou demonizada? Por exemplo, entre o ativismo de esquerda costuma se afirmar que o PT não é um partido de esquerda "de verdade". Ou então, quando o Bolsonaro e outros políticos direitistas ou de extrema-direita afirmam que o PSDB, na verdade, é um partido de esquerda.
O ponto curioso nesses dois casos é que parece existir uma valorização excessiva do termo esquerda ou direita, ao invés de que ambos representam na prática. A cantora Anitta e a jornalista Gabriela Prioli fizeram várias lives no Instagram sobre política e em uma delas, elas discutiram o significa dos termos esquerda e direita.
Já o marxismo nasceu através do conflito entre a classe operária e a burguesia, ou os donos dos meios de produção. Com a revolução industrial, a burguesia acabou adquirindo poder demais e passou a oprimir a classe trabalhadora. Karl Marx, filósofo e sociólogo, então propôs uma teoria de modo a reduzir essas diferenças.
Existem várias correntes diferentes dentro do que compreendemos como espectro político e essas várias correntes nem sempre se misturam mesmo que recebam o mesmo rótulo. Por exemplo, o fascismo e o liberalismo são ambas correntes comumente rotuladas como sendo de direita, porém, existe um abismo de diferenças. O nazifascismo é uma corrente autoritária que defende que as pessoas são diferentes por natureza e prega a pureza e supremacia racial. Além disso, também existem várias correntes dentro do que comumente se compreende como esquerda. Algumas dessas correntes, inclusive, também são autoritárias e antidemocráticas.
Não podemos perder de mão que cada uma dessas vertentes surgiu como resposta há algum conflito de classes ou conflito social e que com o surgimento de novos conflitos, novas ideologias e perspectivas nascem. Por isso, eu não vejo sentido na sacralização, nem na demonização dos termos direita ou esquerda. Primeiro porque são definições subjetivas que mudam de acordo com o ponto de vista ou período histórico, segundo porque o que realmente importa é o que eles significam.
Quando em um debate eleitoral vem uma candidata como a Luciana Genro do PSOL, nas eleições de 2014, e fala coisas como: "O PT não é de esquerda de verdade" ou "todos os outros candidatos são iguais", ela não está sendo clara e informativa com os eleitores. Por que o PT não seria esquerda de verdade? O que é esquerda para ela? Por que ela mistura todas as outras perspectivas e fala que tudo é igual? Esses são alguns questionamentos que eu tenho feito, utilizei ela como exemplo por ser uma figura política que me convencia na época e hoje eu enxergo com outros olhos.
Não me entendam mão, eu não estou defendendo o PT ou os outros candidatos, estou apenas evidenciando o quanto essas críticas são vazias porque elas não estão de fato informando a população. Elas não estão explicando o que de fato é problemático nos governos petistas, por exemplo, apenas falando que o PT não é "esquerda" como se este fosse um rótulo sagrado.
Nós não devemos votar em candidatos apenas porque estes se dizem de esquerda ou direita, mas pelas propostas ou planos de governo que eles representam. Infelizmente, para isso é necessário conhecimento, estudar história, filosofia, antropologia e sociologia. Muitas pessoas não compreendem a importância dessas disciplinas na nossa vida, elas acham que são matérias inúteis porque não servem para fazer dinheiro. Contudo, política é um ramo da filosofia, ter conhecimento a respeito desta disciplina e de ciências sociais nos dá recursos necessários para construir opiniões mais conscientes e embasadas.
Além disso, eu quero discutir sobre a cultura do silenciamento que ocorre dentro dos círculos militantes. Há algumas semanas eu conheci o canal de uma influenciadora youtuber chamada Lívia Zatuty. Se trata de uma moça negra que oferece uma perspectiva diferente a respeito das questões étnicas e raciais brasileiras. Eu não concordo com tudo que ela publica, na verdade, a maioria das coisas eu não tenho nem condições de concordar ou discordar por não ter, nem vivência, nem conhecimento a respeito dessas questões. No entanto, eu achei interessante que ela expõe o quanto dentro da militância desse movimento existe uma perspectiva dominante e todos os integrantes precisam pensar igual, do contrário são cancelados.
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(Imagem retirada da internet) |
Infelizmente, é algo que me preocupa. Democracia consiste em um regime que prevê a convivência pacífica de pessoas com opiniões, estilos de vida e valores discordantes. Por mais que exija o conceito do lugar de fala, tão excessivamente utilizado dentro desses círculos, ninguém passa pela mesma experiência da mesma forma, ou seja, não é porque duas pessoas pertencem a mesma minoria social e possuem histórias de vida semelhantes que a forma que elas enxergam ou foram afetadas por todas essas questões é igual.
Se fazemos partes de um movimento e todos pensam igual, não há debate, apenas reprodução de ideias dominantes, isso significa que ou a maior parte das pessoas não tem senso crítico e seguem como zumbis, ou elas não têm recursos por não estarem estudando outros pontos de vista a respeito das mesmas questões.
Pertencemos a uma geração que acredita que pode opinar sem conhecer, que basta assistir vídeos no youtube e restringir o debate a eles. A internet é uma ferramente poderosa, mas por experiência própria, ela não nos fornece recursos suficientes se a gente só fica nesses canais. Todas as pautas de movimentos políticos e sociais possuem uma trajetória histórica registrada na literatura acadêmica, inclusive os termos. É importante baixarmos a bola da onipotência, reconhecermos a própria ignorância e nos informarmos. Deixando bem claro que eu não estou defendendo a tolerância com discursos de ódio e opiniões ofensivas. Democracia também não é sinônimo de liberdade irrestrita!
O que você acha a respeito de tudo isso? Deixe sua opinião nos comentários, vou adorar ler! 😊
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